Devaneios S.A.
sábado, 14 de maio de 2022
Quem é o quarto-zagueiro?
terça-feira, 3 de maio de 2022
Nem sempre famoso
segunda-feira, 25 de abril de 2022
Sobre críticos e militantes
- Já viu Medida Provisória?
- Qual?
- O filme, pô! "Qual?" O filme do Lázaro Ramos. Geral tá falando.
- Ah tá! Vi não. Você viu?
- Vi.
- E aí?
- E aí que não é isso tudo.
- Sério?
- É, cara! Tipo... o filme levanta questões, faz vários paralelos com o racismo real, mas como filme, achei fraco. Preferi Bacurau. Toca no mesmo tema, só que Bacurau não dialoga com as massas. Medida Provisória sim.
- Entendi. Mas tem crítico elogiando o filme.
- Eu sei. Isabela Boscov gostou. Pablo Villaça ainda não falou nada. Estranho, né?
- Por que?
- “Por que”? Um dos críticos mais famosos do Brasil, super engajado nas causas sociais, ainda nem tuitou sobre o filme?
- Não? Bom… Talvez ele esteja mais dedicado àqueles cursos. Scorsese. Grana.
- Não acho. Acho que ele não gostou do filme e tá demorando um pouco para falar, deixando a galera assistir. Sabe que o filme é importante para a causa e ele é super militante. Não quer atrapalhar, entende? Você não acha que ele arrumaria um tempinho pelo menos para assistir e tecer um comentário no Twitter? Pode estar escrevendo uma crítica elaborada para justificar porque não gostou e porque o filme é importante. Ele é um branco engajado. Na verdade, ele nem é tão branco assim. Tem traços indígenas fortes. Parece aqueles latinos de filme.
- Somos todos latinos.
- É, mas você me entendeu.
- Eu entendi que você disse que o Pablo Villaça tem traços indígenas.
- Fortes.
- O que pode ser verdade.
- É verdade. Mas ele nunca diz. Ele se vê como branco. Um branco responsável, engajado, cheio de culpa, mas branco. E eu acho que isso também é uma forma de racismo. Se o cara é mestiço, por que ele não se diz mestiço?
- Sei lá. Porque a experiência dele é de uma pessoa branca. Ele se vê como branco porque é visto como branco.
- Não interessa. Se ele é o anti-racista que diz que é, ele tem que se assumir, abrir mão do privilégio branco que tem no imaginário das pessoas e dizer "Eu não sou branco" com todas as letras.
- Você também é mestiço. Nunca abriu mão de ser branco no imaginário das pessoas.
- Já sim.
- Não lembro. Outro dia estava falando dos avós italianos. Na festa da Raquel. Porque não fala dos avós indígenas, negros...?
- Sempre falo da minha avó índia.
- Sei. Então você não se vê como uma pessoa branca, certo?
- Certo. Quer dizer… Eu me vejo como branco, mas porque é assim que as pessoas me veem. Seria hipócrita da minha parte dizer que não, fingir para as pessoas que sou uma coisa que não sou.
- Ahan. E como é que para o Pablo é diferente?
- Ele… Ele é um militante. É diferente quando você é um militante.
- Ahan.
- Ahan o que? Ele é um militante. Tem que abraçar a causa de todas as formas.
- Cara. Você já se complicou. Se o Pablo Villaça é racista por se achar branco, você também é.
- Ele é um militante! Você tá surdo?
- E você? Não é militante?
- Não! Desde quando eu sou militante, rapaz?
- Você não é anti-racista?
- Sou.
- Então é militante.
- Não.
- Sim.
- Não, não! Existem formas diferentes de ser anti-racista. Você pode ser anti-racista sem ficar lacrando toda hora.
- Anti-racismo é militância. Se você não milita, não pode ser anti-racista. Pode no máximo ser um “não-racista” que quer colaborar com a causa não colaborando e no fim colabora com o problema.
- Hahahaha! Quer dizer que agora eu sou racista?
- Não. Você é um colaborador involuntário. Eu também, mas eu sou um colaborador assumido. Se você não é um colaborador, é um militante. Se é um militante, é hipócrita.
- Teu cu.
- Quero ver se o Pablo disser que gostou do filme. Vai chamar ele de que? Hipócrita? Mentiroso?
- Não me lembro dele mentindo numa crítica. Mas é certo que alguns críticos brancos vão ter medo de falar mal do filme, principalmente os militantes.
- Isabela Boscov?
- Não sei, cara. Ela não é militante. Não é só uma questão de mentir. Talvez a vontade de que o filme seja bom e o medo de ser visto como um racista enrustido influenciem na opinião.
- Ou seja, “mentirosos enrustidos”.
- Tô só falando. Ninguém quer pagar de racista, nem de colaborador. Nem você, que se diz assumido.
- Tá. E quais as chances de Isabela, Pablo e companhia serem críticos melhores que você e perceberem que o filme é foda, enquanto você não percebe porque nem crítico você é?
- Já deu. Parei por aqui.
- Hahahahahaha!
- Aproveita e me arruma um cigarro.
- Tá bom.
- E você? Vai ver o filme quando?
- Sei lá.
- “Sei lá”? Não vai querer ver não?
- Sou um colaborador assumido, esqueceu? Ainda não decidi.
quinta-feira, 7 de abril de 2022
Oscar 2022 e o tapa que parou o planeta
Eu era um dos bilhões ligados na cerimônia. Lá estava Chris Rock desferindo os petardos de sempre. Penélope Cruz e Javier Barden foram as primeiras vítimas. Se a atriz perdesse, o marido que não ousasse ganhar. Depois disso, Jada Pikett Smith é comparada à Demi Moore em "Até o limite da honra" pela cabeça raspada em função da alopecia que sofre e faz cair o cabelo. O maridão Will Smith riu. Virou-se para Jada, que não achou nada engraçado. Will se levanta, vai até Chris e dá um tabefe no comediante. Assim, na frente do mundo inteiro. Will retoma seu lugar e manda Chris não tocar mais no nome da esposa. Chocado, o comediante diz "Uau! Ele me deu uma porrada! Esse é o maior momento da história da TV!". Justifica-se, em seguida. Diz que a piada nem foi tão pesada e segue suas falas, num tom mais sério. O show continua como se nada tivesse ocorrido.
Na sala de estar, diante da TV, vi tudo como uma grande mentira, parte do espetáculo. Coisa típica de TV americana. Mudei de opinião, claro, mas levei um tempo para me convencer de que o Maluco no Pedaço odiou o Chris e foi às vias de fato naquela noite. Como é que ninguém agarrou o sujeito e o chutou da cerimônia? Will faz uma coisa dessas e é ovacionado minutos depois com um Oscar, debulhando-se em lágrimas na maior noite de sua vida? Armação. E vocês no zap achando que é verdade. Como são ingênuos! Em que planeta vocês vivem? Se fosse real, o mundo ia parar.
Parou.
Levou o raiar do dia, umas poucas horas da manhã e o eixo da terra diminuiu sua velocidade, parando paulatinamente até a ficha cair. O tapa foi real. Se foi, hora da gente sair no tapa também, né? metaforicamente falando. Mídias e redes sociais e bares e academias, e talvez até uma parte do front ucraniano (brincadeirinha, tá?) já deliberava. Quem errou? O tapa? A piada? Uma galera defendeu o tapa. "Há de se impor limites no humor", dizia-se. E os memes em profusão.
Eu mesmo fui chamado a uma live dos Bardos Nerds para discutir a pendenga.
Sobre os limites do humor, não sou dos que acham que tudo vale e pronto. Em outros tempos, comandando um programa na rádio da faculdade, vi-me diante do dilema. Uma esquete engraçada (a gente ri de coisa escrota, por isso essa discussão) envolvendo deficiência mental. Achei a ideia pesada e ela nem foi para o papel. Além disso, consigo lembrar de duas ocasiões em que um murro num comediante foi merecido, ou, no mínimo, compreensível. Vitor Fasano e Netinho batendo no reporter Vesgo do pânico. A situação do Oscar foi diferente. Chris Rock não surgiu como um penetra numa festa fechada, como Rodrigo Scarpa fazia. Aquilo era O OSCAR. Todos sabiam que Chris estaria lá, daria suas alfinetadas. Havia mil modos de respondê-las. Sinceramente, achei a piada leve, comparada com outras coisas que poderiam ser ditas ("Será que o tapete combina com a cortina?", por exemplo). Jada foi comparada a uma personagem empoderada, não com "Meu Malvado Favorito". É possível que Chris Rock sequer soubesse da alopecia, como o mesmo alegou. Diz-se também que o bofetão seria, na verdade, a ponta de um iceberg, a gota d´água numa longa história de insultos, afinal, não é de hoje que Chris sacaneia Jada. Precisamos nos colocar no lugar dela e do marido. Mesmo assim, sigo em minha opinião de que havia mil modos de se responder. Um simples gesto de desaprovação bastaria, gerando discussões póstumas sem que o casal precisasse se sujar. O que Will fez terá consequências pesadas. Está tendo. Se alguém saiu por cima, foi Chris, abrindo mão de se engalfinhar até a chegada dos seguranças (imagina o vexame), parar a transmissão ou mesmo prestar queixa. Mostrou-se um profissional de primeira, salvando o evento, ou o que podia ser salvo, visto que tudo foi ofuscado pelo bofetão (pelo menos até agora). Will pediu suas desculpas, retirou-se da academia, teve duas filmagens interrompidas ou canceladas - Bad Boys 4 e uma proposta para sua autobiografia. Internou-se numa clínica de reabilitação. Espero muito que não seja cancelado, nem perca a estatueta. Seria injusto, apesar de tudo. A maior noite de sua carreira obscurecida por um momento de descontrole.
Ainda sobre os limites do humor: para mim a questão não é tanto sobre existirem. Uma piada de mau gosto pode ter consequências, justas ou não. O problema está em quem determina os limites e porquê. Se uma pessoa se ofende com uma piada, a piada é automaticamente proibível? Pulamos do "casca grossa a qualquer custo" para o "não podemos ofender ninguém"? O Oscar já tem sua lista negra (opa!) de comediantes. Chris Rock era sempre chamado, entre outras coisas, porque ocupava o limiar entre a chatice do que é seguro e previsível e uma espontaneidade ligeiramente arriscada com potencial de gerar burburinhos e um programa descolado. Passou do ponto? Quem passou do ponto foi Will Smith e o tempo deixa isso claro. A terra voltou a girar.
Atualização: A Academia já anunciou que Will Smith ficará 10 anos sem poder ir às premiações do Oscar, embora possa continuar concorrendo às estatuetas. Aparentemente, uma pena leve, quase simbólica, mas se pensarmos de forma abrangente, fica justo, dados os (muitos) outros problemas que este episódio trarão à carreira do ator.
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